O Culpado é o Cliente !
(por João Carlos Rego)
Freqüentemente, vemos publicadas em jornais, livros, revistas e artigos na Internet algumas estatísticas com relação ao desempenho de empresas e ao comportamento do consumidor. Vejamos algumas delas: 1. Como você vê a qualidade do atendimento que lhe oferecem no Comércio ? (Pesquisa realizada pelo SENAC-SP, sobre Comércio Varejista do Estado de São Paulo): • 10% dos Clientes pesquisados afirmaram que o atendimento que recebem é ruim ou péssimo; • 85% dos Clientes pesquisados disseram que o tratamento recebido é indiferente ou neutro; • 5% dos Clientes pesquisados disseram que recebem um atendimento carinhoso. 2. Por que se perde um Cliente no Varejo ? (fonte – Revista Varejo & Cia., SINCOVARP – Ribeirão Preto -SP) • 1% por falecimento; • 5% por mudança de endereço; • 5% por amizades comerciais, ou adoção de novos hábitos; • 10% por maiores vantagens de outras organizações (principalmente o preço) • 14% por reclamações não atendidas, ou desapontamento com a qualidade do produto/serviço; • 65% por indiferença no atendimento, má qualidade do serviço prestado. 3. “Apenas UM de cada DEZ Clientes que têm, ou tiveram, problemas , permanece fiel à marca, ou a quem lhe vendeu”. (fonte – Revista Você S.A. – edição de setembro/98) 4. “A Venda Adicional é responsável por um volume de 25 a 30% de todas as vendas realizadas no Varejo”. (fonte – Técnicas de Venda, edição de maio/98) 5. “Especialistas afirmam que se gasta de 5 a 10 vezes mais para atrair um novo Cliente, do que para manter-se um que já se tem. Pode custar 16 vezes mais trazer um novo consumidor ao mesmo nível de rentabilidade de um Cliente perdido”. (fonte - Forum Company, Administração de Marketing, Philip Kotler) 6. “95% dos Clientes insatisfeitos NÃO RECLAMAM; muitos apenas deixam de comprar”. E, muitas vezes, saem falando mal do estabelecimento/produto/serviço, alimentando a propaganda boca-a-boca. “Dos consumidores que registram uma reclamação, entre 54 e 70% comprarão novamente da organização se sua queixa for atendida. Esse número chega a 95% se o consumidor achar que a reclamação foi rapidamente resolvida”. (fonte – Administração de Marketing, Philip Kotler) Diante desses números, dessas constatações e, principalmente, diante facilidade de comunicação, da propaganda das empresas e da discussão sobre este assunto em nossos veículos de comunicação, há que se perguntar: Por que o Atendimento prestado aos Clientes é tão precário? Por que o discurso de que o “Cliente é o Rei”, o discurso do encantamento do Cliente não se traduz em ações práticas, que venham a melhorar a prestação de serviços ? Como profissional de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos, visito diariamente dezenas de empresas. Não sei se é minha observação que é bastante crítica, não sei se sou só eu que “enxergo”, mas é impressionante o desleixo, a falta de comprometimento, a precariedade, a falta de qualidade nos processos de Atendimento e Vendas. E isto independe do ramo de atividade, ou do porte da empresa. São ainda muito raros os locais onde se é bem atendido. Por isso, quando recebemos um sorriso sincero, uma prestação de serviços honesta e profissional, cortesia, boa vontade, um atendimento ágil e eficaz que atenda nossas necessidades, ficamos tão agradavelmente surpreendidos. Diante disso, será que o culpado por este estado de coisas não é o próprio Cliente ? Não pense que estou ficando louco. Raciocine comigo: • A grande maioria dos Clientes não reclama, fica resignada, acha que não adianta. • A grande maioria dos Clientes não procura seus direitos; não querem “se incomodar”. • Grande parte de nossa população ainda desconhece o Código de Defesa do Consumidor. • A maior parte das pessoas não quer perder tempo preenchendo formulários, reclamando, procurando alternativas. • Pouquíssimas pessoas dão-se ao trabalho de escrever, telefonar, mandar e-mails para veículos de comunicação, relatando insatisfações quanto a atendimentos e produtos/serviços. • Embora muito mais bem informado e exigente em certas coisas, consciente de seu poder de compra, o Cliente não externa, explicitamente, quando, principalmente, “pequenos detalhes” (pequenos para o prestador de serviços) deixam a desejar no atendimento. Desta maneira, por falta de manifestação e atitude dos Clientes, inúmeras organizações deixam as coisas exatamente como estão. “Em time que está “ganhando” , não se mexe”, dizem. Ainda não se deram conta da importância de mensurar regularmente o nível de satisfação de seu público consumidor. Muitas empresas estão perdendo seus Clientes aos poucos e não se dão conta disso. Nos dias de hoje, a chave para a sobrevivência de qualquer negócio é entender as reais necessidades de seus consumidores e atendê-las melhor do que qualquer concorrente. Conforme afirma Philip Kotler: “Não faz sentido a empresa prometer serviço excelente antes de seus funcionários estarem preparados para isso”. Nunca foi tão importante empresas e profissionais investirem no aperfeiçoamento de suas atividades. Diante destas constatações, Amigo Cliente, se você quer produtos e serviços de qualidade, “bote a boca no trombone”. Faça valer seus direitos e seu poder de compra. Qualidade de produto e de atendimento não é favor nenhum, é obrigação de seu fornecedor. Quanto mais exigente você for, mais as empresas terão de melhorar os produtos e a prestação de serviços. E isto é um jogo de ganha-ganha: ganha você, Amigo Cliente, recebendo mais qualidade, ganham as empresas com a fidelização dos Consumidores e melhores resultados, ganham os profissionais pela melhor qualificação de suas atividades e ganha o Brasil, com maior desenvolvimento econômico. Portanto, Amigo Cliente, não se omita, tenha uma atitude pró-ativa: exija! Você tem o poder. Não basta você virar as costas e trocar de fornecedor, pois no novo você poderá enfrentar os mesmos problemas. É preciso uma postura cidadã; uma postura que modifique as estatísticas mencionadas. Somente pressionando, de todas as formas, todo e qualquer tipo de empresa, Você, Cliente, irá obter real e total satisfação em suas necessidades e desejos. Está em suas mãos, Amigo Cliente, fazer as empresas passarem do discurso à prática. Desculpe chamar-lhe de “culpado”. Foi para tentar mostrar-lhe que você é um REI DE VERDADE, portanto: construa o seu reinado. Seja o “culpado de verdade”, mas “culpado” sim pela construção de uma nova era nas relações comerciais. |